Psicólogo especialista fala sobre Pedofilia.

Quem são os pedófilos? Por que alguém sente desejos sexuais por crianças? Pedofilia é doença? Como tratar? E as vítimas? Como um trauma como esse pode marcar a vida de alguém?

Antonio de Pádua Serafim psicólogo que coordena o núcleo Forense do IPQ (instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas), especialista no assunto, acompanhou diversos casos
de crianças vítimas de abuso sexual e tem muito a dizer sobre o tema.


Pedofilia é doença?

Sim. É um transtorno mental ligado ao desejo sexual. Ela se manifesta por meio de um impulso muito difícil de ser controlado. E não é movido apenas pelo desejo sexual, mas envolve sentimentos também. Nem sempre um pedófilo ultrapassa os limites cometendo algum ato ilícito. Muitas vezes a pessoa sofre com esses impulsos e tenta administrá-los, o que
é muito complicado.

E quando a pessoa ultrapassa esses limites, o que acontece?

Quando uma pessoa acaba cometendo um abuso sexual ela entra em um estado de compulsão. Com tendência a sempre aumentar. Mas há diferenças entre os pedófilos. São dois tipos: o abusador e o molestador. O primeiro é mais sutil. Ele demonstra carinho excessivo sobre as crianças. Carinhos erotizados. Mas sem partir para o ato sexual. Já o molestador ultrapassa essa barreira e abusa de crianças sexualmente. É mais violento.

E quem são essas pessoas? Em que ambiente a pedofilia é mais encontrada?

Aqui no Hospital das Clínicas nós cuidamos de 205 casos mandados para nós pela justiça. Em 72% das vezes o abuso é cometido homens. 37% pelos pais. 34% por padrastos. 31% por outros parentes, como tios e primos. Apenas 8% são cometidos por estranhos às vitimas. Ou seja, grande parte do problema está em casa. O que é muito preocupante. E esse padrão é seguido no mundo todo.

Como se dá o tratamento do pedófilo e da vítima?

No caso do pedófilo é feito um acompanhamento psicológico com o acréscimo de alguns medicamentos dependendo do estado que esse distúrbio causa no paciente em questão. Alguns pedófilos apresentam casos de grande ansiedade, enquanto outros de forte depressão. 


Esse tratamento serve como prevenção. Para que se minimize os efeitos dos impulsos e também para que ele tenha consciência dos atos que ele cometeu ou que possa cometer. Já para as vítimas o mais comum é apenas o acompanhamento psicológico. 


O grande problema é que a vítima geralmente se dá conta do que aconteceu com ela anos depois do ocorrido. Principalmente quando atingem a adolescência. Aí sim os medicamentos podem entrar em ação, pois é comum entre elas a tentativa de suicídio. Além disso, há diferença na abordagem do tratamento, pois os meninos e meninas reagem de formas distintas ao abuso. Os meninos geralmente se isolam. As meninas tendem a ter um comportamento mais erotizado, utilizando-se de uma sensualidade que não condiz com sua
idade.

Existem casos de pedófilos femininos?

Sim, mas é mais raro. Aqui nós temos o exemplo do F. A. Pereira, o Maníaco do Parque. Ele conta que foi abusado diversas vezes por uma tia, que o obrigava a fazer sexo oral nela quando ele era criança. Porém, esses casos são mais difíceis porque a ação feminina
no ato sexual é mais sutil, complexa e menos violenta.